Onde Estão os Pardais? O Alarmante Desaparecimento das Aves Urbanas e a Responsabilidade que Também é Nossa

Por Davi Peixoto

Por décadas, os pardais foram companheiros silenciosos das cidades brasileiras. Presentes em praças, telhados, varandas e feiras, essas pequenas aves pareciam indestrutíveis. Mas, de forma quase imperceptível, começaram a desaparecer. Hoje, em muitas cidades, é possível passar dias sem ver ou ouvir um único pardal. A pergunta que surge é simples — e ao mesmo tempo inquietante: o que está acontecendo com eles?

Uma queda silenciosa que se espalha pelo mundo

Pesquisadores internacionais têm alertado há anos: as populações de pardais estão em declínio em diversas regiões urbanas, desde a Europa até a Ásia e as Américas. No Brasil, observadores de fauna urbana relatam a mesma tendência, embora ainda haja poucas pesquisas específicas.

O fenômeno não é localizado — é global. E, segundo especialistas, está diretamente relacionado às mudanças que nós, humanos, fizemos nas cidades.

As principais causas apontadas pelos especialistas

1. Urbanização agressiva

Cidades mais “cinzas”, com menos árvores e espaços verdes, dificultam a vida dos pardais. Edificações modernas eliminam frestas, beirais e telhados tradicionais, onde as aves costumavam fazer seus ninhos.

2. Menos comida disponível

O uso intensivo de pesticidas reduziu drasticamente a quantidade de insetos — principal alimento dos filhotes de pardais.

Ao mesmo tempo, a limpeza urbana rígida diminuiu restos de comida e grãos que antes serviam de sustento.

3. Poluição do ar, luz e som

A poluição moderna afeta diretamente:

• a respiração das aves,

• sua capacidade de comunicação,

• a orientação espacial durante a reprodução.

4. Doenças e predadores urbanos

Parasitas, doenças respiratórias e aumento de predadores como gatos, corvos e ratos também contribuem.

5. Mudanças de hábitos humanos

De sacadas vazias a quintais concretados, de jardins estéreis ao uso de venenos domésticos: involuntariamente criamos cidades inóspitas para as aves.

O que dizem os especialistas

“Os pardais são bioindicadores. Quando eles desaparecem, é um sinal claro de que o ambiente urbano está doente.”

— Fernanda Guimarães, bióloga e pesquisadora de fauna urbana

“O sumiço do pardal é o sintoma de algo maior: estamos destruindo o microecossistema das cidades sem nem perceber.”

— João Freire, ornitólogo e professor convidado em estudos ambientais

Por que isso importa?

A ausência dos pardais é apenas a ponta do iceberg. Eles têm papel essencial na manutenção do equilíbrio natural das cidades:

• controlam insetos;

• dispersam sementes;

• alimentam outras espécies;

• indicam a saúde do ambiente.

Quando eles desaparecem, é sinal de que algo muito maior está falhando no sistema ecológico urbano.

Um chamado à responsabilidade: o futuro dos pardais depende de nós

O desaparecimento dos pardais não é um fenômeno inevitável. Há iniciativas simples que qualquer cidadão pode adotar:

✔️ 1. Plante e cuide de áreas verdes

Mesmo um simples vaso com plantas nativas pode atrair insetos e criar micro-habitats.

✔️ 2. Instale casinhas-ninho

Pardais dependem de pequenos abrigos. Uma caixinha de madeira já faz enorme diferença.

✔️ 3. Reduza o uso de pesticidas

Veneno mata não apenas pragas — mas toda a cadeia alimentar.

✔️ 4. Ofereça água e pequenos grãos

De forma moderada, limpa e consciente.

✔️ 5. Defenda políticas públicas de biodiversidade

As cidades precisam voltar a ser ecossistemas vivos — não só concreto e metal.

Não é só sobre os pardais. É sobre nós.

O desaparecimento dessas pequenas aves levanta uma pergunta profunda:

Se até o pardal — tão adaptável, tão resistente — está sumindo, que futuro estamos construindo para nós mesmos?

Proteger os pardais é proteger o equilíbrio da vida urbana.

É reconhecer que cada pequena ação, cada árvore plantada, cada veneno evitado, cada ninho preservado conta.

E, acima de tudo, é assumir que cuidar do planeta começa dentro da nossa própria cidade, na rua onde moramos, na varanda onde observamos o céu.

Que essa reportagem seja um convite

Um convite para observar.

Um convite para agir.

Um convite para proteger.

Porque, quando um pardal desaparece, não some apenas um pássaro.